Espondilartropatias

As espondilartropatias são um grupo de doenças que partilham algumas características: dor crónica a nível da coluna vertebral e articulações sacro-ilíacas com ritmo inflamatório (agrava com o repouso e melhora com o exercício) que surge habitualmente antes dos 45 anos; inflamação das enteses (inserções tendinosas e ligamentares, por exemplo dos tendões de Aquiles), dactilite (dedos “em salsicha” por envolvimento de duas articulações adjacentes) e artrite assimétrica de um pequeno número de articulações (de predomínio a nível dos membros inferiores). Incluem a espondilite anquilosante, a espondilartropatia axial não radiográfica, a espondilartropatia periférica, a espondilartropatia juvenil, a artrite psoriática, a artrite relacionada com a doença inflamatória intestinal (Doença de Crohn ou Colite Ulcerosa) e a artrite reactiva a infeções (anteriormente chamada síndrome de Reiter).

De uma forma geral, a espondilartropatia axial com sacroileíte radiográfica intitula-se espondilite anquilosante.

Os doentes que apresentam manifestações periféricas de espondilartropatia (artrite, entesite e dactilite) e não reúnem critérios para espondilite anquilosante, artrite reactiva, artrite psoriática ou espondilartropatias relacionadas com doença inflamatória intestinal classificam-se como tendo espondilartropatia periférica.

A artrite reactiva é uma forma de artrite secundária a uma doença infecciosa extra-articular e pode incluir a tríade artrite, conjuntivite e uretrite.

A etiologia das espondilartropatias é desconhecida, mas envolve factores genéticos (como o antigénio leucocitário humano B27 - HLAB27).

Na Europa a espondilite anquilosante pode atingir 1% da população e estima-se que a prevalência de todas as espondilartropatias possa ser três vezes superior. De uma forma geral o sexo masculino é o mais afectado e as manifestações da doença podem iniciar-se na infância, puberdade ou idade adulta mas quase sempre antes dos 40 anos.

Nas espondilartropatias existe classicamente inflamação da coluna vertebral e articulações sacro-ilíacas (sacro-ileíte). As múltiplas alterações produzidas por esta inflamação podem ser diagnosticadas em exames de imagem. Também podem ser afectadas outras articulações para além da coluna. Para além das articulações pode haver atingimento ocular (uveíte, conjuntivite), cutâneo (psoríase) e intestinal. Na artrite reactiva pode haver lesões genitais.

O diagnóstico faz-se com recurso a uma história clínica detalhada, exame objectivo rigoroso e exames auxiliares de diagnóstico dirigidos [sobretudo exames de imagem, HLA B27 e marcadores inflamatórios como proteína C reactiva (PCR) e velocidade de sedimentação].

O objectivo do tratamento das espondilartropatias é controlar a inflamação, prevenir dano estrutural e preservar a função e a actividade na sociedade, garantindo qualidade de vida. Para tal usam-se terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas. A fisioterapia e a terapia ocupacional são muito importantes, tal como controlar a obesidade e abandonar o tabagismo.

A terapêutica farmacológica vai depender das especificidades da espondilartropatia em questão. De uma forma geral, a artrite periférica numa fase precoce é tratada com anti-inflamatórios não esteroides (AINE) e infiltrações articulares em casos selecionados. Quando esta terapêutica não é suficiente pode-se usar corticoide, de preferência em dose baixa e por curto período de tempo. Se estas atitudes não controlam a doença deve usar-se um fármaco modificador da doença (DMARD) não biológico, como a sulfassalazina, o metotrexato ou a leflunomida. Na eventualidade da doença se manter activa dispomos de outras armas como os DMARD biológicos (Secucinumab e anti-TNF - Infliximab, Adalimumab, Golimumab, Certolizumab, Etanercept). No caso da artrite axial, dactilites e entesites a corticoterapia sistémica e os DMARD não biológicos são menos eficazes que os biológicos, pelo que estes devem ser preferidos quando a doença é resistente aos AINE. Em fases avançadas da doença pode ser necessária cirurgia para recuperar mobilidade.

Se o diagnóstico não for precoce e não for iniciado tratamento adequado, as articulações podem ficar irreversivelmente danificadas, com consequente limitação funcional. Nos piores casos verifica-se fusão das vértebras e das articulações sacro-ilíacas, o que torna a coluna rígida e deformada, dificultando ou mesmo impedindo várias actividades básicas do quotidiano.

São necessárias monitorizações periódicas de forma a ajustar a terapêutica face à actividade e evolução da doença que varia de doente para doente, pelo que o acompanhamento e tratamento personalizados devem ser privilegiados.